NINJUTSU REKISHI

São poucas as evidências documentadas disponíveis hoje em dia, para se conhecer a verdadeira história dos Ninjas. Evidências estas que são aceitas por historiadores sérios, como fontes confiáveis para pesquisa, também devem se considerar o que não está disponível.

Para construir a história do Shinobi no Jutsu, deve-se usar uma boa quantidade de análise e do pensamento crítico. O problema de se tratar da história do Shinobi no Jutsu e dos Ninja (usuários do Shinobi no Jutsu), seguir as origens desta arte marcial e seus praticantes, é muito difícil, por um grande número de razões.

Para o historiador profissional, escrever e construir essa história, significa procurar por uma evidência convincente, enquanto melhor a evidência mais forte o argumento será. Tal evidência é encontrada geralmente em uma grande variedade de diários, contos, crônicas, pergaminhos, pergaminhos de pinturas de retrato, correspondência pessoal, etc.

No Shinobi no Jutsu, existem poucos documentos disponíveis, isto é, essa evidência documental é vaga e muitas vezes os documentos não são originais. Os rolos de pergaminhos e os livros das tradições do Shinobi no Jutsu em que encontramos as técnicas e a estratégia militar da tradição, são cópias recentes de textos feitos no século XVII.

As escolas de Shinobi no Jutsu que são ensinadas nos dias atuais, não possuem os textos que foram transmitidos do fundador da tradição ao sucessor atual, isso porque elas eram praticadas em segredo e documentos escritos que poderiam acabar por delatar seus praticantes, assim como também poderiam cair em mãos erradas. O Shinobi no Jutsu na história japonesa, sempre foi praticado e sempre foi transmitido dentro de um grupo homogêneo, através do ensino e do uso do Kuden (ensino oral).

Há quatro textos originais importantes disponíveis ao público em geral:

  • Bansenshukai 萬川集海 (Iga) e/ou Mansenshûkai (Koga)万川集海: escrito em 1.676 por Fujibayashi Yasutake 藤林保武 (também Yasuyoshi);
  • Shinobi Hiden 忍秘伝 (Ninpiden): escrito em 1.560 por Hattori Hanzo Yasunaga 服部半蔵保長;
  • Shoninki 正忍記: escrito em 1681 por Natori Sanjūrō Masazumi 名取三十郎正澄;
  • Ninjutsu Hisho Ogiden no Kan 忍術應義傳之巻: escrito em 1.586 por Mochizuki 望月重家.

Estes são registros do período Edo que incluem algumas informações históricas, discussões sobre a essência do Shinobi no Jutsu, suas características, algumas armas e ferramentas utilizadas pelos Ninja, técnicas de infiltração, etc.

Um dos problemas é a natureza da sociedade japonesa e da história social do Japão. Do final do décimo sétimo século até o meio do décimo nono século, a sociedade japonesa (restauração Meiji) esteve travada em uma estrutura de classe rígida que não permitia que os membros de um grupo social se misturarem com outros grupos. Não tinham nenhuma escolha a não ser aceitar seu lugar na sociedade. Ainda existe uma separação nos dias de hoje. Além disso, havia uma distinção desobstruída entre a classe governante, a classe do samurai e as outras classes de camponeses, artesãos e comerciantes. Dentro de cada classe havia uma determinada hierarquia em que os membros daquela classe, tiveram de agir com o seu papel social, havendo pouca oportunidade de mudar sua posição social.

O Shinobi no Jutsu, para a maioria das pessoas, eram as habilidades e os métodos de combates praticados por um número pequeno das famílias que pertenciam às classes inferiores e eram considerados párias na sociedade japonesa, pois estavam em discordância com o modelo de sociedade adotada no Japão. Para outros, eram áreas diferentes do Bujutsu. Consequentemente, o Ninjutsu do período do Edo foi classificado de forma diferente das tradições nobres do samurai e aqueles que praticavam foram considerados pessoas de baixa classe; esse é um grande erro, pois muitos ninjas eram também samurai, como as 53 famílias mais conhecidas de Koga.

Por isto, o Shinobi no Jutsu nunca recebeu um selo de aprovação como uma tradição marcial reconhecida, pois todos os Daimyo e até os Shogun utilizavam os serviços dos Shinobi no Mono (havia várias definições no Japão para definir o termo Shinobi no Mono, como Ninja, Shinobi, ...), mas poucos admitiam e quando admitiam utilizavam outros termos, como Metsuke, ... às vezes até elevavam os Ninja a posição de samurai. Por não se enquadrar dentro das normas da sociedade japonesa, o Shinobi no Jutsu foi visto muito negativamente e quando o Japão se moveu para período moderno, gradualmente a imagem misteriosa e obscura do Ninja, se transformou em folclore e é vista agora como um fato histórico.

O Shinobi no Jutsu praticando atualmente, seja usando o termo Ninjutsu (Nin-jutsu), Shinobi no Jutsu ou Ninpo Bugei (havia várias definições terminológicas para variadas regiões do Japão), representa um grupo de técnicas marciais sem arma e com arma. As técnicas incluem vários métodos de luta, de saltos, métodos de esconder, de andar, ..., o arsenal das armas inclui uma grande variedade de armas convencionais tais como o Ninja-To ou Shinobi-Ken, Yari, Naginata e armas não convencionais tais como Nekode, Kyoketsu Shoge, Shuko, Kusari-fundo, Toami, Teko-Kagi (a Kurokawa-ryu usa o nome de Kumade), ... e armas escondidas. Em todo o caso, a característica combativa do Shinobi no Jutsu, seja ela defensiva ou a ofensiva, é aceita geralmente como a essência de Shinobi no Jutsu.

Entretanto, uma análise próxima de registros históricos, assim como do 8º século, até o 19º século, mostra que a natureza fundamental de Shinobi no Jutsu estava em métodos como o de infiltração em território hostil, ou seja, em campo inimigo. As descrições de tal infiltração, falam geralmente sobre um general que emita seus agentes para infiltrar em acampamento, castelo, província do seu inimigo, etc. A finalidade dessa infiltração era recolher a informação sobre o inimigo, causar a desordem e disseminar informação falsa.

Às vezes a infiltração era o primeiro ato de um confronto militar, isto é, um agente foi enviado para infiltrar em um forte/fortaleza a fim de abrir suas portas do interior para permitir que os samurais entrassem no forte/castelo. E às vezes a finalidade de infiltrar no território hostil era simplesmente assassinar o general do inimigo. É interessante notar que na maior parte das descrições de tais infiltrações são somente um tema menor dentro de uma narrativa maior, em que o termo Shinobi no Jutsu não aparece, e que raramente começam uma descrição do método de infiltração.

A terminologia mais comum usada em todos estes registros históricos é Shinobi-Kamu e Shinobi-Iri, que significam geralmente infiltrar/ incógnito. A única exceção proeminente à maioria dos registros, são as escritas deixadas por guerreiros de Iga e de Koga sobre seus próprios métodos de infiltração. Especialmente no Bansenshukai, escrito no 17º século, há uma explanação dos métodos de infiltração, em fortes e castelos, acompanhados com esboços.

Quanto a estes registros de Iga e de Koga. Incluem seções de armas especiais, histórias, filosofia, astronomia, topografia e mais. Por tanto, tais informações estão desobstruídas de que a essência de sua atividade seria focalizada em entrar em um território inimigo, por razões que foi mencionado antes. A conclusão inevitável é que o Shinobi no Jutsu, ao menos de uma perspectiva puramente histórica, era as habilidades envolvidas no ato da infiltração secreta para finalidades militares.

Naturalmente, nós devemos agora pensar, o que são todas estas habilidades de combate que nós chamamos atualmente de "Ninjutsu"? a resposta não é encontrada em todos aqueles registros históricos que foram mencionados antes? De fato, não há nenhum registro histórico pré-moderno conhecido que descreve sistematicamente (até a publicação deste tópico informativo), alguns apenas listam e descrevem algumas técnicas de infiltração e apenas algumas técnicas de combate usadas por aqueles guerreiros que se especializaram na infiltração e na atividade secreta.

Os registros mais confiáveis e fáceis de encontrar sobre o Shinobi no Jutsu são:

  • Bansenshukai escrito em 1676 por Fujibayashi Yasutake;
  • Sankokuchisiin (história geográfica de Iga), Fujibayashi Masanao filho de Fujibayashi foi o co-editor deste livro e também do Bansenshukai;
  • Shoninki em 1682 escrito pelos ninja's do Kishu-Han, especialmente por Natori Masazumi, outro tido como autor Natori Sanjuro Masatake, existem provas (ou pelo menos indícios) recentes que o Shoninki foi escrito por Fujibayashi Masataki (talvez este tenha sido irmão do autor do Bansenshukai), outros afirmam que ele era a mesma pessoa que Natori Masazumi;
  • Shinobi Hiden (Ninpiden) foi escrito por vários membros da família Hattori, mas começou a ser escrito por volta de 1542 por pelo primeiro Hattori Hanzo;
  • Igakoku Hiho Ninjutu escrito por Kikuoka Nyogen no meio do período de Edo;
  • Iga Gunpo no Sho (livros militares de Iga);
  • Igakoku Hiden Ninjutsu e Igakou;
  • Omikochishiraku (livro de Koga) da escola Morikawa Rikyoku-ryu;
  • Jutsusho Bunsho/Jutsu-Sho-bunsho de Yamanaka (são muitos volumes);
  • Registro da família Inamasu;
  • Aoki-ryu Densho (Sinshu, Matumoto-han, Toda-ke);
  • Nihon Kidosho: Yamagata-ryu;
  • Iga Ryu Ninjutsu Kakushi No Maki: escrito por volta de 1.500, por Kawakami Hinokazu;
  • Ninjutsu Ogiden 忍術應義傳: escrito em 1586;
  • Yoshimori Hyakushu 義盛百首: escrito em 1.612;
  • Gunpo Jiyoshu 軍法侍用集: escrito em 1.612;
  • Koka Ryu Densho 甲賀流伝書: escrito em 1.719 pela família Akutagawa;
  • Koka Shinobi no Den No Miraiki 甲賀忍之傳未来記: escrito em 1719;
  • Rodanshu 老談集: escrito em 1846;
  • Fukushima Ryu Mitsunin no Chu Sho 福嶋流蜜忍之註書: escrito em 1774;
  • Dentre outros.

Existem outros registros históricos autênticos que citam os Ninjas, mas os registros citados acima são conhecidos como registros escritos por Ninjas. No Museu Iga em Ueno, o seu principal e um dos mais antigos pergaminhos em exposição, cita os Ninjas Kurokawa e foi escrito com a participação de um de seus praticantes.

Existem também registros escritos por Daimyo, Shogun e Samurais e muitas vezes passam uma visão distorcida do que era o Shinobi no Jutsu e como era a filosofia de vida dos Ninjas. Mas mesmo assim são de muita importância.

Estes registros são:

  • Taiheiki;
  • Oninki;
  • Kojiki;
  • Nihon Shoki;
  • Momii Ke Nikki (Diário da Família Momii);
  • Iranki (Tensho Iga no Han);
  • Gikeiki-Ki (Yoshitsune Minamoto);
  • Azuma Kagami (Yoshitsune Minamoto);
  • Heike (Gunki) Monogatari (Yoshitsune Minamoto);
  • Bushi Myomokusho (Títulos de famílias Samurai foi escrito no século XVIII);
  • Kanhasshu Roku;
  • Hojo Godaiki;
  • Kanhasshu Roku;
  • Matsuo Gunki;
  • Intoku Taiheiki;
  • Taikoki;
  • Shinchokoki/Shinchokouki (registro da vida de Oda Nobunaga, contém registro de Iga e Koga);
  • Igamono no Sokokushi (contém a história do governo da família Todo em Iga).

A lista abaixo é de livros (Makimono) escritos por Ninjas da escola Ichiden-ryu ou que contém ligação com ela:

  • Budosendendo (retrata como montar a cavalo);
  • Zenbureipiden;
  • Heiki-Buyokyojitsu (é um livro sobre como usar a armadura na ordem apropriada rapidamente);
  • Enkakuin Yogoden (este é um texto budista religioso escrito por Taeboku, nome religioso do fundador da Ichizen-ryu);
  • Michishirobe Renpyoden;
  • Kamyodenkai;
  • Ichizen Ryu Renpei Den Hokodaiji Shinobi-Ho Denju Mokuroku.

A escola Ichiden-ryu foi conhecida por vários nomes, entre eles Zen-ryu, Zenjutsu-ryu, Budozen-ryu e Zendendo-ryu. Todos estes livros citados acima têm alguma conexão a Ichizen Ryu.

  • Mubinoshi (escrito por volta de 1621 da coleção de 86 livros);
  • Um makimono escrito por Kurozuka Zyudaifu sobre a Toda-ryu;
  • Bunsein-uda de Bunsen-nendai (tempo).

Existem alguns outros registros históricos autênticos que citam os Ninjas e que estão expostos em Museus no Japão ou nas mãos de colecionadores. Existem ainda hoje várias escolas autênticas de Ninjutsu Ryuha, ou seja, foram criadas por Ninjas, entre essas estão:

  • Kurokawa-ryu;
  • Yamagata-ryu;
  • Kuroda-ryu;
  • Akutagawa-ryu;
  • Miko-ryu;
  • Shinpi-ryu;
  • Tanaka-ryu;
  • Koshu-ryu;
  • Koyo-ryu;
  • Koga Takeda-ryu;
  • Kusunoki-ryu;
  • Etc.

O Shinobi no Jutsu no passado era visto como o conhecimento e as habilidades para entrar no território inimigo e nas fortificações em segredo ou disfarçados. Mas o Shinobi no Jutsu foi visto depois da segunda guerra mundial, como é uma coleção sistemática de habilidades de combate, de acordo com o Ryuha, e as respectivas genealogias.

É importante, entretanto, manter na mente a distinção entre Shinobi no Jutsu pré-moderno e moderno. O Ninja ou Shinobi no Mono deve ser visto de duas maneiras diferentes; nós temos que distinguir entre o Ninja histórico e o praticante atual das tradições do Ninjutsu. A razão para fazer uma distinção é a cultural e social. Contudo, as forças armadas mudaram no período de Tokugawa ao período (moderno) da era Meiji. Não há nenhum sentido em procurar uma mudança gradual nas características do Ninja nesta transição histórica. É melhor procurar o Ninja em períodos diferentes e tentar caracterizá-lo em seu contexto histórico específico.

Por isso, nos dá Kurokawa-ryu estudamos e aprendemos sobre as histórias do Shinobi no Jutsu de diversas fontes, com a finalidade de aprendermos a verdadeira e autêntica origem, nascimento e história dos ninjas.

Por exemplo:

  • Yamato Takeru (homem poderoso de Yamato), era um príncipe guerreiro do Japão antigo sobre quem nós aprendemos no Kojiki (escrito 712 A.D.);
  • No Nihon Shoki, foi escrito que Minamoto no Yoshitsune, era meio irmão do primeiro shogun de Kamakura, é dito ter dominado habilidades de combate superiores e a estratégia militar e era irmão de arma do monge Musashibo Benkei, os documentos históricos são: Gikeiki-ki, Azuma Kagami e Heike Monogatari;
  • Massahide Kusonoki, nos livros de história japonesa consta como um samurai, que treinava e possuía Ninjas sobre seu comando, na Kurokawa-ryu estudamos sobre ele no Taiheiki.

Devemos também conhecer a história dos ninjas mesmo que seja na visão de famílias samurais e como dito antes, existem vários livros antigos que citam os Ninjas e é interessante que se possa conhecer um pouco dessa visão. Pois essa é a mesma visão que os próprios "praticantes" do Ninjutsu tem hoje da arte, que de certa forma é uma visão equivocada.

A seguir citarei uma pequena passagem de um antigo texto, do livro do século XVIII intitulado "Títulos de famílias Samurai" (Bushi Myomokusho):

"Os Shinobi no mono executam diferentes trabalhos de espionagem. Também são chamados de Kanja e Choja. O seu serviço é penetrar secretamente em outras províncias e encontrar a real situação no campo inimigo, além de encontrar os seus pontos fracos. Adicionalmente, ali estando, podem ter que assassinar algumas pessoas. Estes Shinobi são usados em muitos casos. Também são chamados de Mono Kiki e Shinobi Metsuke. Normalmente seu serviço não era fixo. Um Shinobi usualmente é uma pessoa comum, um ashigaru (pernas leves), um doshin (guarda policial), um rappa, seppa ou outro que possa ser usado. Perto de Kyoto, nas províncias de Iga e Koga, do distrito de Omi, existem muitos Jizamurai, que depois da era Onin (1467-1477) organizaram-se em seus próprios bandos, muitas vezes, assaltando e roubando. Muitos deles acabaram tornando-se mestres em sua arte de espionagem (Kancho no jutsu), depois que seus Daimyo (senhores feudais) os tornaram Ronin (Samurai sem mestre). A prática usual os fazia espiões. Tinham então o nome de Iga no Mono (Homens de Iga) e Koga no Mono (Homens de Koga)." (KOJI RUIEN. Tokyo, 1969, 346 p., volume 43, traduzido do japonês antigo).

Estas observações podem ser vistas por diferentes pesquisadores japoneses de Nin-jutsu e não nos causa surpresas o fato desta citação estar implícito em muitos destes textos.

Quem era o Ninja (ou Shinobi no mono, como aparece também em vários textos antigos) e quais eram as normas de seus clãs secretos para a manutenção e desenvolvimento da arte do Shinobi no Jutsu? O que é mais importante nestes textos? Primeiramente, os Shinobi no Mono eram espiões e serviam aos lordes feudais.

A função de espião não depende do ensinamento de conhecimentos místicos religiosos que era a base da distinção desta categoria. Por isso, podemos substituir a palavra Shinobi no Jutsu, nestas ocasiões, por Kancho no Jutsu, que era a habilidade de espionar sem qualquer vínculo com aspectos espirituais.

O uso simplesmente da palavra Kancho ou Choja, que também significa espião. Palavra está de origem chinesa, também é sinônimo de Shinobi no Mono. Nestes casos é importante ressaltar os grupos sociais de onde o Shinobi era recrutado: pessoas comuns, Samurai de classe baixa (Ashigaru), policiais (Doshin), seppa (suppa) e rappa (nome dado no Japão a pessoas especialistas em guerrilha nas montanhas e campos). O Soke Tanaka Minoru (Kurokawa-ryu), utilizava o termo Suppa-ryu para definir as escolas especialistas em estratégias de guerrilha, como a Koyo-ryu e a Ninko-ryu.

Se adicionarmos aqui o fato de que, em alguns textos como o "Diário da Família Momii" (Momii Ke Nikki), aparece o termo Shinobi no Samurai (Koji Ruien, volume 43, página 355 - Samurai servindo como um Shinobi), fica claro que somente alguns homens possuíam habilidades especiais para que pudessem servir como um Shinobi. Então, a passagem do texto "Buke Myomokusho" que se refere a famosos grupos de Iga e Koga é muito exata. Existiram muitos Mestres da Arte da Espionagem e eles realmente treinaram e estudaram as tradições do Shinobi no Jutsu e transferiram seu conhecimento através das gerações em suas regiões. Mas estes mesmos homens de Iga e Koga não foram os criadores da arte da espionagem, pois estes estudos são muito anteriores ao surgimento do próprio Ninjutsu.

É claro que não podemos vincular o complicado fenômeno do Shinobi no Jutsu tomando como base somente esta passagem. Mas existem muitos outros recursos que colaboram com esta teoria:

  • As crônicas das cinco gerações de Hojo (Hojo Godaiki);
  • Registros das oito províncias de Kanto (Kanhasshu Roku);
  • Crônicas Militares de Matsuo (Matsuo Gunki).

Também é possível tirar conclusões dos modernos historiadores do Shinobi no Jutsu (Ninjutsu), que tentam retirar a imagem estereotipada deste "guerreiros invisíveis", reconsiderando este pensamento com base em documentos históricos.

Tentamos obter informações verdadeiramente históricas sobre o Ninja. De fato, esta situação não é tão desesperadora assim. Existem dezenas de tratados Ninja famosos, como o "Bansenshukai", o "Shinobi Hiden" e o "Shoninki", que foram publicados no Japão em nossa época. Existe uma descrição detalhada sobre a invasão de Oda Nobunaga na província de Iga, constante em fragmentos no "Shinchokoki". Existem também inúmeros relatórios históricos dos Oniwaban do Shogun e outros documentos. Há vários registros da genealogia de clãs reais de Shinobi no Mono, como os Mochizuki, os Kurokawa, os Hattori, os Akutagawa, os Wada, os Fujibayashi, os Momochi e dentre outros. E finalmente, centenas de passagens em muitos Gunki Monogatari, como o "Taiheiki", "Hojo Godaiki", "Kanhasshu Roku", "Matsuo Gunki", "Intoku Taiheiki", "Taikoki", dentre outros.

Existe registro sobre as 53 famílias Ninjas de Koga. Entre elas, a família Kurokawa que trabalharam para o Daimyo Sasaki na guerra de 1487 a 1501; cita o nome de alguns membros como Kurokawa Hayashi Massayoshi, Kurokawa Isao Saigo, Kurokawa Massayoshi. Existe registro do Soke Kurokawa Yoshiro Matsuo que trabalhou para Takeda Shigen e posteriormente para o Shogun Tokugawa Ieyassu em 1570. Há também diversos registros da família Tanaka que foi uma das mais importantes famílias Ninja do Japão Feudal.

"O Soke Tanaka Minoru (Kurokawa-ryu), descendia de uma família Ninja, com raízes tanto em Koga quanto em Iga".

Existem registros da família Tanaka trabalhando para Takeda Harunobo e a família Mochizuke de Koga. A família Tanaka criou a escola de shinobi no jutsu Tanaka-ryu. Sabe-se também que havia membros da família Tanaka trabalhando para o jonin Momochi.

Quanto aos registros da família (ninja) Tanaka, se misturam com a da família (Ninja) Nagai/Nakai e diz (Resumindo):

Primeiro - No Sankokuchishi (história de Iga e Koga) está escrito: "Em Izugo, o castelo de Nagai-jo ficava situado no monte que conduzem a Hoojiro, onde um dos três mestres maiores Ninja, Momochi Tanba governava. Nagai Naizen era o senhor do maior castelo, lutou na batalha defensiva desta área, junto de seu vizinho Tanaka Tamibe."

Segundo - No Iranki, está escrito: "em 1579 Nagai Naizen e Tanaka Tamibe lutaram contra Oda em Awataguchi, durante a batalha de Tensho Iga no Han. Os dois Tanaka Tamibe e Nagai Naizen pertenciam ao grupo do Jonin Momochi Tanba e diziam que o Nin-jutsu deles era maravilhoso. Durante a era de Edo, trabalharam para o senhor de Iga, quando este era o clã Toda, como Iga no Mono."

Terceiro - De acordo com o Chojiruihen, no final da era de Edo as duas famílias transformaram-se em Torimetsuke. Este papel era de guardar o Daimyo.

Quarto - Registro que diz que: "na batalha de Tensho Iga no Han, Momochi Tanba participou na batalha e os Iga no Mono, Tanaka Annojyo e Nagai Matazaemon eram o Ninjas de Momochi";

Quinto - Ainda há o registro da Kunoichi Tanaka Sadako da família Tanaka, a qual nunca foi descoberta enquanto trabalhava disfarçada. Também trabalhou para o jonin Momochi Tanba.

De acordo com a historiografia, as artes marciais possuem sua origem entre os anos 4.000 e 3.000 a.C., mas vou ater somente às artes marciais no Japão, em particular o Ninjutsu.

A primeira escola de arte marcial fundada foi a Koden-ryu, por Fujiwara Kamatari (619-669) na montanha Tanzan. A segunda foi a Kanze-ryu fundada por Sakanoue Tamuramaro. A Koden Ryu hoje é considerada uma forma de Jujutsu, dizem ser de origem coreana, foi criada no século VII. (JUJUTSU, vpuma, disponível em: <https://www.vpuma.com/styles/jujutsu.html>. Acesso em: 1999. Grifos do autor).

A especialidade da Koden Ryu é o KUNAI. O Kunai é uma ferramenta muito versátil, usada para finalidades escavar, escalar, ... e claro, arremessar. A Koden Ryu existe até hoje em dia no Japão.

É consenso comum entre os historiadores japoneses que o Ninjutsu teve início nas montanhas do Japão, em especial nas regiões de Iga e Koga. Os ninjas normalmente pertenciam a uma sociedade guerreira religiosa, viviam para os estudos esotéricos e práticas marciais. Desde o ano de 593 d.C. têm-se referências de linhas de espionagem Ninja a serviço do Príncipe Shotoku Taishi.

Mas o Ninjutsu teve seu auge durante o período Heian (795 a 1185), onde se estruturou e estabeleceu se como uma habilidosa arte de guerra onde não havia lugar para as palavras "derrota ou impossível". O Ninjutsu viveu sua idade de ouro, durante o período Kamakura (1192-1333). Surgiu no Japão, mas não há como dizer exatamente onde (local, vila, ...), o que há são indícios de onde passaram a existir os treinamentos mais estruturados, do que hoje é conhecido como Ninjutsu. Também não há como dizer se foi criado por uma pessoa. Muitos citam o Shugento como a origem dos ninjas, mas o citam ligando a Iga, o que é errado. O Shugento de En no Gyoja ficava em Handozan situado no meio do distrito de Koga. (O En no Gyoja foi o fundador do Shugendo).

Os ninjas de Koga aprenderam Heiho (Nnjutsu, Bujutsu, Heigaku) em Handozan. Handozan era o lugar do Kaihogyo (nome correto para os que se referem ao Shugendo) de En no Gyoja Kaiki. A primeira posição do Shugendo era Yoshino e depois Handozan, foi fundado e veio mais tarde em Heizan. Até o estabelecimento dos 49 Templos de Shingon Shugendo em Iga, Handozan era o único lugar do Shugendo situado na parte norte de Iga, e as pessoas influentes foram classificadas como Dogo (principalmente parentes de sangue de Hattori de Iga e de Koga) e treinaram lá.

Em Handozan a semente do Nin-jutsu era o dojo creditado por transmitir o Heiho e o Bujutsu fundando pelos Yamabushi de Koga a Iga. Este dojo era também a posição do treinamento do Koga Heiho Dogo. Os povos de Iga (principalmente norte) aprenderam Heiho (estratégias) e Bujutsu (Arte Marcial) com os povos de Koga em Handozan até o estabelecimento dos 49 Templos de Shingon por Kobo Daishi Kukai, fundador de Koyasan Shingonshu. Os membros da família de Hattori viveram em Iga e alguns na área de Koga e criaram uma ligação forte entre os povos destas duas regiões. A família de Hattori teve uma das maiores influências nas áreas porque tiveram parentes de sangue e viveram em Iga e em Koga. Outras famílias que possuíam parentes nas duas regiões eram Fujiwara, Taira, Tanaka, Nakai, entre outros. A família Sugitani de Koga por exemplo eram parentes da família Oe de Iga. Handozan ficava situado no meio do distrito de Koga. Povos que vieram no futuro a constituir a família Kurokawa, já viviam em Koga nesta época.

Outra fonte de conhecimento do Ninjutsu foi o filho de Mochizuiki Saburo Kamei (Koga Oni no Kami Kameie). Conhecido como Oni no Kami Iechika, um talento tanto militar quanto literário, foi tido como o fundador de Koga Ryu. Ele estudou Kenjutsu e Genjutsu do monge Budista Otaki no Sho Tatsumaki, também conhecido como Tatsumaki Hoshi, que vivia na área. Acredita-se que ele aprendeu Asuka Oshin Jutsu e Token Jutsu de Minamoto Hachimon Shiro Narimasa.

Um grupo de família descendentes de Oni no Kami Iechika, Koga, Mochizuki, Ukai, Naiki e Akutagawa chamavam a elas mesmas "as cinco casas de Koga", guerreiros que fugiram da China se refugiando em Iga e Koga e outros guerreiros derrotados em batalhas como Nanboku chô (1336-1342) fugiram também para Koga.

Não foi apenas um fato que deu origem ao Nin-jutsu, foi um conjunto de fatores e de circunstâncias.

Shugendo, Tendai e Shingon são três religiões diferentes.

Tendai e Shingon são Budismo Esotérico (Mikkyo), o Shugendo além do Budismo Esotérico (Mikkyo), contém outros elementos em si como por exemplo Shinto, Taoísmo, Onmyodo e Shamanismo. O Shingon foi fundado no início do século 9, o Tendai foi fundado no final do século 8 e o Shugendo teve origem no século VII.

Sempre se diz que os Yamabushi são os precursores dos Ninjas, isto é, correto até certo ponto. Pois a realidade é que há outras influências e estas não são a parte, pois todas são elementos chaves para o que veio a ser a arte marcial Nin-jutsu e os Ninjas.

Os Ninjas tiveram influências dos Yamabushi, dos Sennin, dos guerreiros e estudiosos chineses (Taoístas) refugiados nas montanhas do Japão, por razões políticas na China. Também, havia outros refugiados, como alguns "Ronin" que haviam fugido para as montanhas, os que estavam do lado perdedor de alguma guerra civil ou por território estabelecido e entre outros.

A combinação destes conhecimentos (e dos vários contatos culturais) é o que faz o Ninja ser como é. Porém, claro estou me referindo aos ninjas das áreas montanhosas do Japão. Estes ninjas aprenderam por razões políticas, religiosas, econômicas e sociais a sobreviver em um país de constante guerra civil.

A outra origem é a que nasce por necessidade na estratégia militar de ter uma divisão de inteligência militar. Estou referindo aos ninjas que surgem como parte da divisão de inteligência militar (como em toda cultura militar) onde usavam qualquer bushi (guerreiro) que tinha alguma habilidade especial para fazer seu trabalho como espião e Shinobi.

As Ryu de hoje em dia são escolas de artes marciais, porém na época feudal, existiam também as escolas militares, criadas pelo Shogun, por Daimyo, por generais, etc. Como todos sabem cada clã ninja tinha a sua escola e era lá que o Shogun, os Daimyo, Generais, comerciantes, clãs (famílias poderosas) etc. escolhiam entre elas o instrutor que ia servir de mestre para suas tropas, como é o caso das escolas Nakagawa-ryu e Takeda-ryu Kunoichi. Em muitos destes clãs como Takeda, Uesugi, Hojo, Tokugawa, Oda e Toyotomi havia uma divisão de inteligência militar e espionagem. Estes ninjas eram espiões, sabotadores, assassinos e alguns eram utilizados como guarda costas, pois quem seria melhor que um Ninja para evitar que outro Ninja invadisse o castelo para assassinar o Daimyo.

Por exemplo, clã (família) Takeda teve três escolas de Nin-jutsu que são creditadas a sua fundação ao Daimyo Takeda Shingen. Sendo a Takeda-Ryu, a Koyo-Ryu e a Ninko-Ryu. Mas Takeda Shingen não fundou pessoalmente estas escolas e nem ensinou aos Ninjas destas escolas de Nin-jutsu; ele contratou mestres Ninjas para tal função como foi o caso da Takeda-ryu (Miko-ryu), Kunoichi que foi criada por Mochizuki Chiyome uma Jonin Kunoichi de Koga. Takeda Shingen também tinha Ninjas de outras escolas trabalhando para ele e seus generais faziam o mesmo.

Existem muitos textos populares japoneses que mencionam histórias sobre a perseguição aos yamabushi, que eram seguidores do Shugendo. Cabe recordar que a verdadeira razão de sua perseguição foi por que estes yamabushis se proclamaram monges, propagando uma nova versão do budismo, diferente da que se ensinava oficialmente. Estas perseguições são que fazem com que estes monges se ocultem nas montanhas e se unindo aos povos nativos que lá viviam, desenvolvendo técnicas de guerrilha, camuflagem e combate corpo a corpo e com armas. Essa perseguição aos yamabushis foi durante um curto período, pouco mais de 20 anos. Pois esta perseguição parou quando Dokyo desapareceu da cena política. Dokyo era um monge inimigo dos yamabushis.

No Shojan Engi (história de todas as montanhas), fonte principal de informação sobre o Shugendo, escrita no final do século XII, não cita nada dos yamabushi envolvidos em guerras militares ou com o Ninjutsu. De todas as formas, podemos supor que os yamabushis participaram em operações militares, sobretudo durante a segunda metade do século XII, pois nessa época as organizações de yamabushis controlavam numerosas tropas de monges guerreiros.

Os samurais tiveram uma influência talvez até superior sobre a evolução do Ninjutsu. Preste atenção eu disse sobre a evolução e não sobre o surgimento do Ninjutsu.

Outro fator que colaborou para o surgimento do Ninja e a evolução do Ninjutsu foi a ida de guerreiros e monges chineses para o Japão. Pois esses chineses levaram consigo além das artes marciais, conhecimento e livros, como o livro Sun Tzu (A Arte da Guerra), o qual foi amplamente usado por generais da época. Só uma observação, o livro chinês Sun Tzu, tem haver mais com a arte da guerra em geral, fala muito pouco sobre o uso de espiões. Por isso sua influência sobre o desenvolvimento do Ninjutsu foi mínima. O Ninjutsu é um fenômeno completamente japonês.

Os primeiros Ninjas surgiram entre pessoas de baixa classe social, que viviam nas regiões montanhosas no Japão, onde adquiriram conhecimentos de guerreiros, monges, ascetas, yamabushi e generais refugiados de guerras. Com o passar do tempo e pela necessidade constante de se defenderem, defenderem suas famílias e o território onde viviam, desenvolveram novas técnicas e estratégias de guerrilha. Com o tempo, algumas famílias começaram a usar esse conhecimento para sobreviver.

Quanto ao Ninjutsu Kurokawa-ryu teve origem no início do século XI, mais precisamente no ano de 1038. A família Kurokawa descendia de antigos guerreiros e monges de Handozan e vivia em povoados nas regiões montanhosas e distante dos centros culturais, na região de Koga (Koga), que era povoada por clãs pobres, camponeses relativamente independentes, por místicos, monges, ..., alguns vindos da China, que estavam no lado errado da última guerra, entre outros.

A família Kurokawa desenvolveu talentos diversos, inclusive aprendeu técnicas do treinamento de monges da montanha (Yamabushi), com o tempo os Kurokawa evoluíram de simples povos a guerreiros altamente habilidosos. Aprendendo e desenvolvendo as habilidades, estratégias e técnicas em Handozan que ficava situado no meio do distrito de Koga. Lá os primeiros Kurokawa aprenderam Heiho e Bujutsu. Sendo monge, Kurokawa Yoshiro aprendeu Kenjutsu, Bojutsu, Genjutsu, Asuka Oshin Jutsu, Tongyojutsu e Token Jutsu de seus irmãos de peregrinação, pois a arte marcial era necessária para a sobrevivência dos monges. Outras artes, que o fundador de Koga Ha Kurokawa-ryu Nin-jutsu aprendeu com os monges foi o Hicho-jutsu (arte do salto ou arte voadora) e Karumi-jutsu, que significa, a arte que ilumina o corpo. Iluminar o corpo (no sentido de dominar o centro de equilíbrio) não é só considerado no aspecto físico do exercício, mas também o aspecto mental e espiritual, dentro do Karumi-jutsu se treinava, o Taisabaki, Taihen-jutsu, principalmente os Kaiten, o Taisabaki, Aruki (Shinobi-iri), etc.

Os monges da época também eram praticantes de uma arte marcial denominada Himijutsu, alguns chamam na de Himitsu Kenpo que significa, a arte secreta da lei do punho. Este nome denomina uma arte marcial ampla, com muitos sub estilos. Seu treinamento, que era até certo ponto realista ao extremo, tomava em consideração qualquer tipo de circunstância adversa que poderia acontecer em uma situação real.

As técnicas desenvolvidas por Kurokawa Yoshiro e aperfeiçoadas ao longo dos séculos são enfocadas para a realidade. Suas técnicas não pareciam muito ortodoxas para as outras artes, porém seu fim não era a plasticidade ou a beleza e sim a funcionalidade de algo que podia salvar lhe a vida. Kurokawa Yoshiro foi um Sohei (monge guerreiro) e no início ele fundou uma escola de arte marcial (Bu-Jutsu), unindo os conhecimentos de artes marciais e estratégias de guerra de sua família com as artes marciais e os conhecimentos religiosos, princípios e as leis da natureza que aprendeu com os monges. Na época não havia a definição de arte ninja, eles eram guerreiros e não havia essa preocupação que a hoje de definir que arte marcial praticavam, a única preocupação era se o que treinavam era eficiente ou não.

Na época de Kurokawa Yoshiro, o Japão era uma sociedade guerreira, o país estava dividido em pequenos feudos que lutavam entre si para obterem o poder. O país passava por constantes guerras internas e os Samurai podiam exercer seus direitos e seu poder sobre a população feudal; o povo permanecia oprimido pela injustiça do Samurai, que podia matar com sua Katana sem pedir uma autorização prévia. Por isso um monge guerreiro como Kurokawa Yoshiro, com seu sentido diferente de justiça e cujo código de honra era relegado para depois do sentido de sobrevivência e do coração benevolente se constituía em um perigo para os privilégios da casta Samurai, era um rebelde social.

A palavra Nin significa:

  • resistência;
  • paciência;
  • perseverança;
  • oculto;
  • força interior;
  • escondido.

Kurokawa Yoshiro desenvolveu suas técnicas por necessidade, devido à grande opressão que existia no lugar onde sua família vivia. Muitas das técnicas desenvolvidas pelo Soke Kurokawa Yoshiro se baseiam na natureza, nos animais, no corpo humano e sobretudo na astúcia do modo de atacar dos animais, pois suas técnicas foram desenvolvidas nas montanhas, nos campos, lagos, rios, etc.

Hoje em dia essas técnicas continuam sendo ensinadas da mesma maneira, as práticas no campo aberto com o objetivo de tornar os Ninjas mais rápidos, mais fortes e mais audazes, principalmente com o objetivo de procurar desenvolver uma maior união entre humano e natureza. Os Ninjas consideram que a natureza é o melhor meio para se treinar o Nin-jutsu e compreender o Ikko no Kokoro e os princípios da Dai-Shizen, muito superior que em um dojô. Os antigos Ninjas da Kurokawa, conviviam com a natureza a ponto de depender dela e por isso considerava o Ninjutsu uma forma de vida e não uma arte marcial.

Voltando ao Ninjutsu, muitas pessoas acham que as técnicas das escolas de Iga eram diferentes de Koga, mas essa é uma afirmação errônea. A diferença entre as escolas de Iga e Koga é a mesma diferença que há entre duas escolas de Koga, ou seja, a diferença depende em que as escolas eram especialistas. Mmas muitas escolas eram praticadas tanto em Iga quanto em Koga. Nos mapas da época podemos ver que Iga e Koga eram somente uma grande área. A razão do porque Iga e Koga se separaram foi devido a uma divisão territorial na época. Por essas circunstâncias a região de Koga possuía um governante, enquanto a região de Iga permanecia parcialmente "livre". Koga pertencia à Omi (prefeitura de Shiga).

A distinção entre Iga e Koga apareceu durante o primeiro período de Sengoku (1467-1576 d.C.), nos mapas da época o distrito de Koga não era distinguido do distrito de Iga, pois existia dentro da maior parte da área de Iga. Por tanto os habitantes de Iga e Koga eram do mesmo povo. Depois que o imperador Korei foi coroado governante do Yamato, proclamou que a área seria conhecida oficialmente como Iga. Na época a área de Ise oficialmente foi chamada Isezuhiko e a área de Iga oficialmente foi chamada Isetsuhime (segundo o Nihon Shoki, "Crônicas do Japão" terminado em 720 d.C). Os habitantes Iga e Ise eram da mesma origem, dentro das montanhas de Iga. Quando o Kanji foi introduzido, os nomes foram adaptados a Iga e Ise. A data exata de separação das áreas de Iga e de Koga não é conhecida, mas alguns historiadores estimam que seja por volta das de 710 d.C. a 780 d.C. Na época adaptaram os Kanji que foram utilizados para o nome Iga, sendo utilizados com um Kanji muito parecidos para dar nome ao novo distrito de Koga.

Koga Ninjutsu

Koga foi uma região de grande importância no Japão. Existem registros de 53 famílias trabalhando juntas, por volta de 1478.

Algumas das Ryus na região de Koga eram:

  • Koga Ryu;
  • Shinpi Ryu;
  • Taira Ryu;
  • Isshu Ryu;
  • Byaku Ryu;
  • Kawachi Yon Tengu Ryu;
  • Taro Ryu;
  • Kuruya Ryu;
  • Kurokawa-ryu;
  • Tomo Ryu;
  • Tatara Ryu;
  • Sugawara Ryu;
  • Otomo Ryu;
  • Hiryu Ryu;
  • Fujiwara Ryu;
  • Sasaki Ryu;
  • Tachibana Hachi Tengu Ryu;
  • Kurokawa Ryu;
  • Akutagawa Ryu;
  • Wada Ryu;
  • Kogetsu Ryu; (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten)
  • Koge Ryu (Kouge-ryu); (retirtado em: Bugei ryuha Daijiten. P. 273.)
  • Koga Takeda Ryu; (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten, P. 270)
  • Koyo Genkan Teki Ryu; (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten, P.286);
  • Tonmiya Ryu; (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten, P.646);
  • Noma Ryu; (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten, P. 687);
  • Rikyoku Ryu (Morikawa Rikyoku Ryu); (retirado em: Bugei Ryuha Daijiten, P.845);
  • Yamanaka-ryu;
  • Etc.

Escrito pelo 36º Soke da Kurokawa-ryu, Ébio Cleser Borges, 1999.

Adaptado para as novas normas ortográficas, 2023.